sábado, 5 de março de 2011

A mulher da faxina

Já disse que gosto de fazer faxina. Principalmente a parte que envolve água. Lavar chão, lavar banheiro, etc..Faxina pra mim é terapia, sempre me ocorrem pensamentos interessante. Mas não é só isso. Não sei delegar. E sabe o que mais, todo mundo fala isso facilmente..Fulano não sabe delegar. Mas como é isso de não saber delegar? Na minha penúltima faxina aqui no ap pensei sobre isso e pensei no que pra mim significava não saber delegar.
Tudo começou porque contratei uma pessoa pra fazer faxina no ap e depois peguei o carro e subi a serra. Paguei por um dia e meio de faxina num ap de quarto e sala. Ou seja, esperava encontrar o ap um brinco. Precisaria mesmo de mais de um dia pra ficar o brinco que eu esperava encontrar, já que com as obras era uma poeira só. Muito bem, o Júlio porteiro me indicou a Rosilene, ela veio no ap, tratei com ela, e fui embora com Moby e Bebel pra serra.
Quando voltei ao ap alguns dias depois fiquei super decepcionada com a faxina dela. Não sou nada perfeccionista, nem com as minhas coisas e nem com as dos outros. Sou super tolerante e tá tudo bom pra mim. Mas a faxina da Rosilene deixou mesmo a desejar. Eu havia pedido que elas passasse um pano em todos os livros pra tirar a poeira, que fizesse quantas máquinas de roupas fossem possíveis (fez uma apenas, aparentemente), que ajeitasse os móveis em algum lugar (ajeitou todos), que lavasse todas as louças (não lavou nada, aparentemente) e o chão estava horrível. Resultado: Passei um sábado de sol no Posto 6 fazendo faxina. E então pensei: Se tivesse sido a minha amiga Cris que tivesse contratado este serviço o ap não estaria assim. Estaria de fato um brinco, tenho certeza. Então começei a cavar, a cafufar e a tentar descobrir porque. Ai pensei na forma como falei com a Rosilene no dia da faxina e constatei que eu faço o tipo "patroa gente boa". Sou mole mesmo, legal demais, simpática demais, sorridente demais. Veja bem, não estou dizendo que precisamos ser duras ou grossas com estas pessoas, não é isso. Mas o que constatei nessa minha faxina feita no dia lindo é que estes pequenos contratos de serviços (faxina de 1 dia com faxineira que nunca vi antes na vida) não se sustentam na simpatia. A Rosilene não tem nenhum sentimento em relação a mim, ela não me conhece e quanto mais fácil e rápido puder ser a faxina, melhor. Ela não me deve nada, nem simpatia, nem gratidão, nada. Se eu me apresento como patroa gente boa e vou embora assumindo que "ela sabe o que deve fazer", a tal da Rosilene vai fazer as coisas da forma mais fácil possível. E foi exatamente isso que aconteceu. O problema, eu pensei, é que na hora da contratação fica parecendo que eu estou ali pra fazer uma nova amiga, no caso a faxineira, e não pra contratar um serviço. E essa sutileza desta relação mal definida não fica clara para a Rosilene. O que ela tem ali é uma patroa mole que não vai dar trabalho. Resultado: Porcaria de faxina!
Já pro caso da Sueli, que era minha empregada de todos os dias, a minha "moleza" me transformava na patroa mais querida do mundo e eu podia contar com a Sueli para as mais diversas situacões, até pra ir cuidar de Moby e Bebel no domingo, quando eu tentava me virar pra ver que jeito daria pra deixar minha família e voltar pro Brasil por causa dos cães. Mas isso é fácil de entender..Sueli desenvolveu sentimentos por mim e isso não tem preço. Nunca sumiu 10 centavos da minha casa e ela não tem nenhum motivo pra se indispor comigo. É uma relação completamente diferente daquela relação que se desenvolve com a diarista. Com a diarista isso só ocorre depois de anos de convivência, como foi a minha com a Angélica, a faxineira da Guatemala que trabalhava na minha casa nos EUA e que ficou comigo por uns bons 4 anos da minha vida. Ela coonheceu o David e viu ele morrer. Foi pra mim que ela ligou desesperada do hospital quando estava prestes a dar a luz, eu paguei curso de inglês pra ela e vivia dando coisas pro filho dela. Para mim não há nenhum outro modo para se estabelecer estas relações.
No fundo a razão é uma só: evitar conflito. Não sei brigar com empregada, nem com o porteiro, nem com o bombeiro e nem com o cara que colocou as prateleiras.
Peciso encontrar alguém pra contratar estes serviços pra mim.
Cade meu marido que não chega?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Não sou refém

No dia 12 de fevereiro eu fechei um ciclo ao colocar Moby e Bebel dentro do carro e deixar Itaipava, onde morei por quatro anos, desde que fui embora dos Estados Unidos. Eu desci a serra no final do dia, depois de vender quase tudo que havia na casa. Vendi o sofá laranja, vendi a mesinha de centro, vendi a mesinha de televisão, vendi a televisão de 30 polegadas. Tudo coisa. Vendi tudo e o que não vendi ainda irei vender, dar, emprestar, alugar, consignar, sei lá. Tudo coisa. Não sou refém de coisa! Não sou refém de salário, não sou refém de aposentadoria garantida, não sou refém de rotina, não sou refém de 13 salário, não sou refém de lugar, não sou refém de língua. Meu compromisso é com uma coisa apenas: a minha felicidade. E faço o que tiver que ser feito em nome deste único compromisso.
Engana-se quem achar que isso é o mesmo que dizer que sou irresponsável ou inconseqüente. De jeito nenhum. Sou super responsável e penso tudo sobre todas as coisas. Porque ser responsável e pensar tudo sobre tudo faz parte da minha felicidade.Também é um engano pensar que se trata de uma viagem solitária e egosísta. Mais do que nunca não. Porque estar com a minha família, meu marido e meus cachorros faz parte da minha felicidade.
Estou no Rio. Moro no Rio. Planeta Copacabana, que saudades!
Hoje entendo perfeitamente o que me levou a escolher Itaipava, um lugar onde nunca antes havia estado, onde não tinha estória, onde não conhecia absolutamente ninguém. A escolha por Itaipava foi como escrever a primeira página de um novo livro que se quer terminar um dia. Eu precisava começar tudo de novo, do zero. Precisava me afastar das coisas que conhecia, precisava me re-descobrir depois da morte da David e de viver 12 anos nos Estados Unidos, precisava me apresentar a mim mesma e me olhar lá no fundo pra ver o que poderia enxergar. Enxerguei um monte de porcalhada, umas minhas e outras que nunca me pertenceram. Umas me chocaram profundamente outras não me surpreenderam. Umas me assustaram outras me desesperaram. Umas me deprimiram, outras me deram esperança. Me agarrei no que ainda podia me dar alguma esperança, tive a devida coragem e puxei com força a corda que me acompanhava no fundo do poço. Do outro lado da corda havia um homem paciente que puxava um pouquinho de cada vez e que nunca, nunca em momento algum, largou a corda.
As pessoas que conheci em Itaipava foram amigas, companheiras e confidentes. Me ajudaram a construir este novo mundo cercado de montanhas. Eu precisava olhar para coisas bonitas. Precisava ver as borboletas, o Ipê roxo da rua abaixo, o periquito verde e escandaloso. Precisava poder sair sem medo de madrugada, precisava poder voltar a hora que fosse. Precisava descobrir onde era o supermercado, o cabeleireiro, o restaurante e onde era o melhor lugar para beber Itaipava.
Consegui perdoar todas as minhas dores. Consegui curar as feridas que me comiam aos poucos, consegui deixar o medo pra trás, consegui deixar de me fazer de vítima das circunstâncias, consegui me libertar da personagem da jovem viúva, consegui perder o medo da conta do banco, do mamograma, da vistoria do carro, do celular bloqueado. Consegui afrouxar a minha rigidez. Finalmente descobri o botão mais importante da minha vida. Ele chama-se foda-se!
Vou escrever um tratado: Como o botão foda-se me tornou uma pessoa mais feliz!
Não recomendo pra todo mundo. Somente pra aqueles que como eu sofrem, ou sofreram, de rigidez excessiva.
Agora não sou mais refém de nada. Nem das minhas maluquices.
Meu marido chega em duas semanas. Ele vem me ajudar com a entrega do apartamento em Itaipava, com a reforma do apartamento em Copacabana e com a viagem de Moby e Bebel para Israel.
A viagem acontecerá em Abril.
Estou muito feliz. E pensei: sobre felicidade não se conversa. É o assunto mais proibido do mundo. Pode se falar sobre traição, dores, tristezas, dúvidas, incertezas. Mas sobre felicidade não se pode falar. Não pega bem ligar para uma amiga e pedir: Vamos sair? Quero te contar como eu estou estupidamente feliz.
Não pode. É feio. Até dá medo. Olho gordo, dizem. De felicidade não se fala não, só de desgraça e coisa ruim. Pra falar de coisa ruim sempre tem um ouvido amigo..já da tal felicidade...
Queria contar como estou estupidamente feliz. Posso?