segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma bola de tênis de nome Wilson e um cão chamado Moby

Minhas palavras são movidas pela dor. Isso eu já sabia. Se não tem dor, não tem palavras. Ou elas não me veem e eu escrevo nada. Quando alguém me diz.."poxa, você não tem mais escrito.." tenho vontade de dizer ..."e isso é ótimo não?"
Escrever pra mim é analgésico e analgésico eu só tomo quando dói.
E agora tá doendo muito! Muito! E já fazia muito tempo que não sentia dor assim. Essa dor me transporta para outros tempos que já nem queria lembrar ou ter conhecido um dia.
Estou no Rio desde setembro, numa viagem que seria mais uma das minhas idas e vindas entre Israel e Brasil, dividindo minha vida entre o trabalho que está aqui e família que está lá. Sinais e possibilidades da era do skype, do torpedo, e da mais última descoberta em alta resolução; face time!
Mas nada disso pode substituir o desejo mais urgente e dilacerante de estar lá ao lado do Moby, olhando pra ele, fazendo carinho e cuidando dele.
Na quarta-feira passada ele acordou chorando e não conseguiu se levantar. Com muito esforço meu marido conseguiu levá-lo pra passear. Com muito esforço ele comeu na mão, com muito esforço bebeu água e voltou a dormir. No veterinário, dois dias depois, a notícia chegou rápido e implacável. O raio-X não escondeu o tumor que se instalou entre sua pélvis e o fêmur. O tipo espcífico não sabemos, mas possivelmente um daqueles nomes horríveis impronunciáveis por mim de tão feio que é. Deveriam ser todos banidos de todas as línguas do planeta.
E eu aqui, longe, me dilacerando por dentro e procurando passagens desesperadamente. Olhando a agenda e fazendo contas.
O estômago está virado ao avesso. O cigarro re-apareceu e nem sei da onde veio. A vontade é de sumir amanhã no primeiro voo para Tel-Aviv para ficar ao lado, só mais um pouquinho, desse bichinho que só me deu felicidade e amor incondicional. Que me acompanhou por nove anos nas minhas maluquices e nos momentos mais difíceis da minha vida, esse bichinho que sempre foi só felicidade, mesmo com todos os problemas de saúde que sempre teve. Que jogou bolinha mais que qualquer outro cachorro, que ainda se surpreende com as moscas, com as formigas, e que adora soprar na cara da gente porque nunca entendeu que o que a gente esperava era um beijo e não um sopro de cachorro. Que peidava sem cerimônia, que acordava no meio da noite pra uivar como um lobinho e depois cair no sono novamente. Que ronca a ponto do volume da TV ter que ser aumentado. Que não se deitava mas se jogava no chão como se fosse um saco de batata. Que sempre topou tudo e qualquer coisa e sempre foi muito paciente e educado. Foi sempre a companhia das cozinheiras e ficava deitadinho no chão da cozinha esperando pela casquinha do pepino. Foi sempre louco por pão, a única coisa que era capaz de roubar quando nos distraímos. E além de mim, sua paixão da vida inteira foi uma bola de tênis de nome Wilson.

Um comentário:

  1. Lamento e muito o que voce acaba de contar sobre o seu amiguinho querido. Ja passei o mesmo com o meu Willy Boy que se foi a 3 anos e ficou um vazio imenso.
    beijos e tudo de bom.

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