sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ciclo circadiano

Aprendi cedo em biologia sobre os ciclos circadianos. É o ciclo circadiano que permite que nosso corpo durma a noite e esteja acordado durante o dia. É ele que diz pro nosso corpo que horas são. É ele que nos deixa perturbados quando fazemos uma longa viagem e atravessamos os meridianos numa velocidade maior do que aquela já conhecida por nosso corpo. Quando o ciclo circadiano é perturbado tudo fica esquisito e precismos de alguns dias para nos adaptarmos a nova realidade das horas.
Tenho pensado muito sobre os ciclos, e mais recentemente tenho perecbido que há algo além dos ciclos que determinam as horas diárias pro nosso corpo. São cilcos maiores que se extendem além das meras 24 horas de um dia completo. É ciclo da semana, dos meses e das estações. EStes ciclos me parecem ter um significado maior, ainda inexplorado e que nos servem de ancoras da alma, ou de nossa psique.
O mais difícil da vida em Israel, por enquanto, não é minha falta de palavras e nem o ar seco. Não é o vento algumas vezes desértico e nem a chuva fria repentina. O mais difícil é ter que fazer de conta que domingo é segunda-feira! Domingo aqui é um da normal como todos os outros. Todo mundo tem trabalho, as escolas funcionam normalmente e o país segue inderente à pausa que se faz na maioria do resto do mundo. Domingo aqui é o sábado que se revela um domingo violento onde nada funciona, nem mesmo o transporte público. O país pára literalmente, indeferente ao movimento crescente que se observa neste dia no resto do mundo.
Meu corpo não entende como, sendo domingo, Maribel e Shika precisam levantar cedo, e eu também, para começar um dia que se inicia as 7 da manhã.
As estações também parecem ter seu significado. Somente depois de termos vivido uns 3 anos num novo lugar começamos a nos sentir adaptados e a reconhecer tal lugar como lar. Acredito que isso nada tenha que ver com as particularidades do lugar em questão mas com a certeza e a familiaridade que se começa a sentir num novo lugar depois de termos testemunhado as mudanças de estações por pelo menos uns 3 ciclos e de já sermos capazes de reconhce-las ou antecipá-las. Neste sentido Israel me parece muito familiar porque me lembra demais os ciclos nos EStados Unidos e meu aniverseario, de novo, volta a cair no verão enquanto por muitos anos, quando criança, eu queria fazer festa na piscina e minha mãe me lembrava que meu aniverseario caia no inverno. Carioca sim, mas mesmo assim ainda inverno.
A maioria das pessoas precisam destas âncoras para se sentirem em casa, precisam dos ciclos em total harmonia para que ss sintam pertecendo. Eu nesse ponto me sinto muito perdida. E talvez seja exatamente a falta que eles me fazem que me levam a pensar tanto neles.
Meu marido é um homem de ciclos e rotinas. Na sexta-feira compra pão especial, a hala, e pega o jornal gratuito que é distribuido no supermercado. Ele tem hora pra tudo. Pra acordar, pra tomar café, pra comer, pra falar ao telefone e até pra cagar. Se a hora passa ele simplesmente deixa pro dia seguinte. Diz que já ficou muito tarde.
Por isso muita gente jamais consegue sair do mesmo lugar. Dizem, de forma simplista, que já estão acostumados do jeito que vivem.
Eu não me acostumo com nada. Porque quando perecebo que estou me ficando eu reinvento a vida a parto para uma outra nova. Mas talvez com a idade a necessidade dos ciclos, o desejo por uma rotina, começam a se fazer presentes em mim.
Talvez isso tudo fique mais evidente ao lado das meninas por causa da escola. Não há nada que possa dar mais estrutura a todos os indíviduos de uma família do que a rotina tirana escolar. O dia sempre começa e termina na mesma hora e ao longo dele há vários marcos. A hora do almoço, hora do banho e hora do jantar. Por isso o fim de semena, mesmo pra quem tem uma vida tão flexível como a minha, se torna um descanço. Não há escola no fim de semana.
Mas quando sou requisitada a deslocar o principal dia do meu fim de semana, o tal do domingo, fica tudo bagunçado. Vai explicar pro meu corpo que um dos únicos marcos ainda possíveis na minha existência precisa ser re-ajustado...Que eu preciso mexer nos dias da semana como fossem cartas de baralho. Que preciso trocar a coringa de lugar se eu ainda quiser ter uma canastra. Sinto como se me tivessem roubado um feriado por muito aguardado.

2 comentários:

  1. mas a idiota aqui quer saber: a sexta é sábado?

    já vi que não, né?

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  2. de repente bateu uma saudade da gente (eu, você, seu marido, as meninas e quem mais estivesse junto) indo comer nhoque lá no new horse.

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