segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma bola de tênis de nome Wilson e um cão chamado Moby

Minhas palavras são movidas pela dor. Isso eu já sabia. Se não tem dor, não tem palavras. Ou elas não me veem e eu escrevo nada. Quando alguém me diz.."poxa, você não tem mais escrito.." tenho vontade de dizer ..."e isso é ótimo não?"
Escrever pra mim é analgésico e analgésico eu só tomo quando dói.
E agora tá doendo muito! Muito! E já fazia muito tempo que não sentia dor assim. Essa dor me transporta para outros tempos que já nem queria lembrar ou ter conhecido um dia.
Estou no Rio desde setembro, numa viagem que seria mais uma das minhas idas e vindas entre Israel e Brasil, dividindo minha vida entre o trabalho que está aqui e família que está lá. Sinais e possibilidades da era do skype, do torpedo, e da mais última descoberta em alta resolução; face time!
Mas nada disso pode substituir o desejo mais urgente e dilacerante de estar lá ao lado do Moby, olhando pra ele, fazendo carinho e cuidando dele.
Na quarta-feira passada ele acordou chorando e não conseguiu se levantar. Com muito esforço meu marido conseguiu levá-lo pra passear. Com muito esforço ele comeu na mão, com muito esforço bebeu água e voltou a dormir. No veterinário, dois dias depois, a notícia chegou rápido e implacável. O raio-X não escondeu o tumor que se instalou entre sua pélvis e o fêmur. O tipo espcífico não sabemos, mas possivelmente um daqueles nomes horríveis impronunciáveis por mim de tão feio que é. Deveriam ser todos banidos de todas as línguas do planeta.
E eu aqui, longe, me dilacerando por dentro e procurando passagens desesperadamente. Olhando a agenda e fazendo contas.
O estômago está virado ao avesso. O cigarro re-apareceu e nem sei da onde veio. A vontade é de sumir amanhã no primeiro voo para Tel-Aviv para ficar ao lado, só mais um pouquinho, desse bichinho que só me deu felicidade e amor incondicional. Que me acompanhou por nove anos nas minhas maluquices e nos momentos mais difíceis da minha vida, esse bichinho que sempre foi só felicidade, mesmo com todos os problemas de saúde que sempre teve. Que jogou bolinha mais que qualquer outro cachorro, que ainda se surpreende com as moscas, com as formigas, e que adora soprar na cara da gente porque nunca entendeu que o que a gente esperava era um beijo e não um sopro de cachorro. Que peidava sem cerimônia, que acordava no meio da noite pra uivar como um lobinho e depois cair no sono novamente. Que ronca a ponto do volume da TV ter que ser aumentado. Que não se deitava mas se jogava no chão como se fosse um saco de batata. Que sempre topou tudo e qualquer coisa e sempre foi muito paciente e educado. Foi sempre a companhia das cozinheiras e ficava deitadinho no chão da cozinha esperando pela casquinha do pepino. Foi sempre louco por pão, a única coisa que era capaz de roubar quando nos distraímos. E além de mim, sua paixão da vida inteira foi uma bola de tênis de nome Wilson.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Pinto no Lixo

Meu irmão sempre gostou de usar esta frase como a expressão máxima da felicidade. E foi assim, que nem pinto no lixo, que me senti hoje ao sair do avião no Santos Dumont e respirar o cheiro inconfundível desta cidade. Estou no Brasil há quase 1 mês mas por conta do trabalho fiquei até agora poucos dias nesta cidade que cada dia me parece mais maravilhosa. A felicidade não é apenas por ter pousado no Rio de Janeiro. Ela vai muito além e cruza oceanos e continentes. A felicidade é por ter encontrado pra mim uma vida que me satisfaz em todos os sentidos e que me supre todos os dias. A minha vida hoje tem o meu jeito e atende a todos meus desejos e necessidades. Sou uma empresária de sucesso, minha pequena empresa está crescendo e fazendo sucesso, meu casamento é super feliz, as meninas me revigoram e me ensinam novas lições e meus cães são as coisas mais deliciosas que eu poderia ter. E tudo isso eu atribuo ao fato de não ter me feito refém de coisa alguma que não pudesse me trazer felicidade. Nem as minhas maluquices de mulher quase neurótica me impediram de ir atrás daquilo que me parecia ser o caminho da felicidade.
Quando penso hoje no meu casamento e vejo que eu quase deixei tudo a perder percebo claramente o tamanho do erro irreparável que teria cometido na minha vida. Eu teria deixado esse homem maravilhoso e super companheiro ir embora e hoje, provavelmente, estaria batendo cabeça pela cidade como como vejo acontecer com outras mulheres da minha idade.
Eu tive a sorte de não apenas um mas de dois amores tranquilos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Frescor da Primavera

Vivo agora um instante de grande prazer que ganhei de presente e que é fruto de um perrengue. O perrengue foi ter meu voo pro Brasil cancelado depois de passar 5 horas no aeroporto de Tel-Aviv. O presente é este momento, que estou em casa, sentada do lado de fora com uma cerveja e Moby e Bebel. Meu marido saiu com as meninas para ver um stand-up comedy que eles já haviam marcado.
Uma vez eu falei disso. Desses momentos solitários que passam a ser tão escassos quando se tem uma família. Esses momentos onde se pode escolher tudo. O que se vai beber (uma cerveja!), e o que se vai fazer (escrever!). Eles tem um gostinho muito diferente daqueles momentos solitários quando se vive só, exatamente porque são únicos. ás vezes nem sabemos o que fazer com eles de tão especiais que passam a ser.
Minha volta pro Brasil foi adiada para amanhã. Fico até junho e depois volto pra Israel onde ficarei até setembro.
Eu adoro a nossa casa nova! Fica num bairro delicioso, super silencioso, é cheio de flores lindas por todos os cantos e estamos em plena primavera! Um ventinho fresquinho bate de leve e escuto uma cigarra fazendo aquele barulinho gostos que identifico como natureza.
O perrengue que passei ontem no aeroporto me mostrou uma coisa importante. Que eu tomei a decisão certa em trocar a base da minha vida pra cá e de ter invertido a ordem das coisas. Ao invês de morar no Brasil e visitar Israel constantemente eu agora moro em Israel e visito o Brasil constantemente. A grande diferença é que quando saio de viagem pra trabalhar deixo aqui a minha e aqueles que amo em segurança. Ontem no aeroporto eu não fiquei histérica com a possibilidade de qua a troca de passagem fosse me deixar desamparada, ou Moby e Bebel ou as meninas ou meu marido. Fora o trabalho não há nada no Brasil a minha espera ou que dependa de mim. Estão todos aqui em segurança e os imprevistos da vida, como foram as chuvas de janeiro em Itaipava já não se traduzem em catastrofes pessoais. Fiquei cansada com a confusão de ontem a noite no aeroporto, mas somente isso, cansada.
Acho que esse é um dos grandes benefícios de se ter uma família, é o de se sentir amparada. Não tenho medo da velhice e nem da solidão e isso me dá uma tremenda paz e possibilita a minha vida presente.
Eu hoje me sinto tão mais feliz e tão mais equilibrada do que nos últimos anos. Não tenho mais crises e tudo pra mim faz sentido. Hoje entendo exatamente os questionamentos que tive quando ele e as meninas entraram na minha vida. Eu simplesmente nnao sabia o que fazer com eles ou o que eles de verdade representavam. Agora sei exatamente. Eu casei foi com ele e por causa dele apenas. Não resolvi ficar com ele porque me parecia a única possibilidade de ter uma família. Era isso que eu me recusava a aceitar e eu estava certa. Até realmente me apaixonar por ele e decdir que eu o queria como compnheiro pra vida toda a sensação de que eu deveria aceitá-los porque seria bom pra mim era uma idéia que eu rejeitava fortemente. Eu o fazia com razão, porque me negava a aceitar a idéia de que uma mulher só poderia se sentir completa se tivesse uma família pra cuidar. Esse esteriótipo da infelicidade e da amargura da mulher solitário era algo que eu desprezava e contnuo desprezando. Uma mulher não precisa ter marido e filhos pra sentir completa. A felicidade pode ser conquistada de vearias formas e até mesmo dois ponters marrom podem ser fruto e produto de todo amor que se necessita na vida. Cuidar de duas meninas que perderam a mãe tão cedo não é um passeio no parque, por melhor que elas sejam. Cuidar de duas meninas, sendo filhas legítimas ou não não é passeio no parque pra ninguém. E apesar de ter desde o ínicio tentado de tudo pra preencher esta lacuna na vida delas eu me perguntava constantemente porque seria meu dever assumir tal responsabilidade. E enquanto eram estes os meus questionamentos, os sentimentos que tal ato despertavam em mim eram sentimentos de caridade e de confusão. A chave de toda a mudança foi de fato ter me apaixonado por ele e de te-lo escolhido pra minha vida. Agora sei porque quero e devo cuidar delas. Elas são as filhas do homem que amo e são parte da vida dele. Agora sim, faz sentido. Um dia elas irão cuidar de suas vidas e nós permaneceremos. Foi com ele que me casei. As meminas vieram de bônus. Fazem pate do pacote que eu escolhi. Agora sim. A escolha foi minha! E estou fazendo desta escolha o melhor que posso para todos nós. Estamos todos bem!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ciclo circadiano

Aprendi cedo em biologia sobre os ciclos circadianos. É o ciclo circadiano que permite que nosso corpo durma a noite e esteja acordado durante o dia. É ele que diz pro nosso corpo que horas são. É ele que nos deixa perturbados quando fazemos uma longa viagem e atravessamos os meridianos numa velocidade maior do que aquela já conhecida por nosso corpo. Quando o ciclo circadiano é perturbado tudo fica esquisito e precismos de alguns dias para nos adaptarmos a nova realidade das horas.
Tenho pensado muito sobre os ciclos, e mais recentemente tenho perecbido que há algo além dos ciclos que determinam as horas diárias pro nosso corpo. São cilcos maiores que se extendem além das meras 24 horas de um dia completo. É ciclo da semana, dos meses e das estações. EStes ciclos me parecem ter um significado maior, ainda inexplorado e que nos servem de ancoras da alma, ou de nossa psique.
O mais difícil da vida em Israel, por enquanto, não é minha falta de palavras e nem o ar seco. Não é o vento algumas vezes desértico e nem a chuva fria repentina. O mais difícil é ter que fazer de conta que domingo é segunda-feira! Domingo aqui é um da normal como todos os outros. Todo mundo tem trabalho, as escolas funcionam normalmente e o país segue inderente à pausa que se faz na maioria do resto do mundo. Domingo aqui é o sábado que se revela um domingo violento onde nada funciona, nem mesmo o transporte público. O país pára literalmente, indeferente ao movimento crescente que se observa neste dia no resto do mundo.
Meu corpo não entende como, sendo domingo, Maribel e Shika precisam levantar cedo, e eu também, para começar um dia que se inicia as 7 da manhã.
As estações também parecem ter seu significado. Somente depois de termos vivido uns 3 anos num novo lugar começamos a nos sentir adaptados e a reconhecer tal lugar como lar. Acredito que isso nada tenha que ver com as particularidades do lugar em questão mas com a certeza e a familiaridade que se começa a sentir num novo lugar depois de termos testemunhado as mudanças de estações por pelo menos uns 3 ciclos e de já sermos capazes de reconhce-las ou antecipá-las. Neste sentido Israel me parece muito familiar porque me lembra demais os ciclos nos EStados Unidos e meu aniverseario, de novo, volta a cair no verão enquanto por muitos anos, quando criança, eu queria fazer festa na piscina e minha mãe me lembrava que meu aniverseario caia no inverno. Carioca sim, mas mesmo assim ainda inverno.
A maioria das pessoas precisam destas âncoras para se sentirem em casa, precisam dos ciclos em total harmonia para que ss sintam pertecendo. Eu nesse ponto me sinto muito perdida. E talvez seja exatamente a falta que eles me fazem que me levam a pensar tanto neles.
Meu marido é um homem de ciclos e rotinas. Na sexta-feira compra pão especial, a hala, e pega o jornal gratuito que é distribuido no supermercado. Ele tem hora pra tudo. Pra acordar, pra tomar café, pra comer, pra falar ao telefone e até pra cagar. Se a hora passa ele simplesmente deixa pro dia seguinte. Diz que já ficou muito tarde.
Por isso muita gente jamais consegue sair do mesmo lugar. Dizem, de forma simplista, que já estão acostumados do jeito que vivem.
Eu não me acostumo com nada. Porque quando perecebo que estou me ficando eu reinvento a vida a parto para uma outra nova. Mas talvez com a idade a necessidade dos ciclos, o desejo por uma rotina, começam a se fazer presentes em mim.
Talvez isso tudo fique mais evidente ao lado das meninas por causa da escola. Não há nada que possa dar mais estrutura a todos os indíviduos de uma família do que a rotina tirana escolar. O dia sempre começa e termina na mesma hora e ao longo dele há vários marcos. A hora do almoço, hora do banho e hora do jantar. Por isso o fim de semena, mesmo pra quem tem uma vida tão flexível como a minha, se torna um descanço. Não há escola no fim de semana.
Mas quando sou requisitada a deslocar o principal dia do meu fim de semana, o tal do domingo, fica tudo bagunçado. Vai explicar pro meu corpo que um dos únicos marcos ainda possíveis na minha existência precisa ser re-ajustado...Que eu preciso mexer nos dias da semana como fossem cartas de baralho. Que preciso trocar a coringa de lugar se eu ainda quiser ter uma canastra. Sinto como se me tivessem roubado um feriado por muito aguardado.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A delícia e o prazer de ser brasileira

As 7 horas da manhã chegou em nossa casa a nova a moça da faxina. Veio com um lenço amarrado na cabeça que cobria o cabelo totalmente. E o olhar temeroso ao ver os cães não deixou dúvida. Nossa faxineira é árabe. Os árabes tem muito medo dos cães judeus. Isso tem razões históricas. Cachorro sente cheiro de medo, que deve ser o cheiro que as descargas de adrenalina devem produzir e que muito provavelmente são perceptíveis apenas ao nariz canino. Não preciso aqui gastar muitos bits pra explicar que as relações judaico-árabes nunca foram das melhores, por motivos igualmente históricos e os quais ninguém já nem sabe mais aonde começam ou acabam. São todos inocentes e culpados ao mesmo tempo. E os árabes israelenses, aqueles que nasceram em Israel e são cidadães israelenses que assim como os judeus compartilham o país onde vivem, tem uma constante relação de amor e ódio com o país. Vivem, sem sombra de dúvidas, em condições melhores do que os árabes que vivem em países árabes. O acesso a educação e saúde é gratuíto a todos no país. Mas vivem num país que tem dificuldades em reconhecer como pátria. Mas com certeza não gostariam de estar em nenhum outro lugar senão aqui. Enfim, é o conflito que atinge também o dia a dia das pessoas comuns e não apenas as guerras e as frustradas tentativas diplomáticas de se buscar uma solução pra região.
Pois ela, que tem um nome que me parece impronunciável e que eu nem me atreveria a tentar soletrar, me pareceu tímida e certamente acuada. Faz uma faxina que não se compara à faxina da Angélica, a faxineira da Guatemala que trabalhava na minha casa nos EUA, a Lu ou a Soely no Brasil. A faxina dela é de guerrilha!
Pois eu estava lá embaixo tentando explicar pra Bebel que ela não podia entrar em casa agora porque a casa estava limpíssima e ela tava com as patas sujas. Expliquei, dei osso, fiz carinho até que ela se deitou no quintal da frente, para admiração de nossos vizinhos ingleses.
Foi então que subi pro segundo andar pra continuar trabalhando e tive que interagir com ela, a faxineira, pela primeira vez e tendo pra isso apenas o meu vocabulário hebraico super limitado (todos os árabes tb falam hebraico). Como deixá-la menos acuada e mais tranquila em minha presença se mal posso me comunicar com ela?
Lembrei do meu maior trunfo, que não é só meu mas de tantos outros milhões de indivíduos. Sou brasileira! Sou do país mais querido do mundo. Sou da terra que sempre abre sorrisos nos rostos de qualquer um de qualquer nacionalidade. Não brigo, não implico, não me acho, não sou besta. Sou brasileira.
Não precisei de muitas palavras pra explicar pra ela que eu não sabia ainda falar hebraico e que eu...eu sou brasileira! Falei pra ela. Foi ai que conheci o sorriso dela. Brasilai, ela perguntou? Ken Brasilai, eu disse. Ela sorrindo me disse: meu filho ama o futebol do Brasil! Ele tem a camida e o short do Brasil!
É mesmo? E quantos anos tem seu filho? eu perguntei. Nove; ela disse ainda satisfeita com a novidade.
Hoje ela vai chegar em casa e ao invés de dizer que fez faxina na casa de um judeu, vai contar satisfeita ao filho que fez faxina na casa de uma brasileira. A brasileira é judia, mas isso provavelmente se torna irrelevante diante da paixão verde-amarela!
Da próxima vez trago um presente do Brasil pro filho dela. Afinal, não é só de futebol que se alimenta uma paixão, mas também do calor, da simpatia e do carinho de um povo.
Eu sou brasileira!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Hello Tel-Aviv, Au Au!

Há três dias Bebel e Moby pousaram em Tel-Aviv. Foi um período de muito trabalho, desde o dia em que decidi, ainda em Israel, em Janeiro, que eu mudaria a minha vida pra cá. As decepções que tive na época e a sensação de desamparo me foram necessárias para que eu tomasse uma atitude que pensava não ser capaz. Eu ...não capaz de alguma coisa quando enfio na cabeça???...té parece! Não sou refém né...Acho que isso já deixei claro!
Meu marido veio me encontrar no meio do mês passado no Brasil e foi de Tel-Aviv direto ao meu encontro na cidade paulista do Aedes, onde eu dava um workshop. No dia seguinte voltamos juntos pro Rio de Janeiro e trabalhamos muito até finalizarmos com tudo. Entreguei o apartamento de Itaipava, que havia alugado em Novembro! Vendi, dei, mudei, emprestei, perdi, quebrei, tropeçei, ou jogeui no lixo todas as coisas que tinha. Tudo coisa né? Fizemos uma pequena reforma no ap do Posto 6 e no domingo passado fomos de carro até um sítio perto do aeroporto de Guarulhos onde ficamos os 4 (eu, meu marido, Moby e Bebel) até terça feira. Na terça feira chegamos esbaforidos no aeroporto, atrasados e eu super nervosa. Enfiei o "remdinho" dos cachorros guela abaixo..30 gotas pra cada um, botamos cada um em sua caixa de R$ 500,00 e seja o que Deus Quiser!
No meio do voo fui ao banheiro na ponta de trás do avião e escutei Moby latindo. Decidi que eu também devia tomar o "meu" remedinho. Um comprimidinho pequinininho marromzinho e puft. Bom dia and welcome to Tel-Aviv!
Ele passou na frente, a fila dos Israelenses estava pequena, eu fiquei lá no meio dos russos, segurando meu passaporte brasileiro e com o coração na mão. De repente vejo lá de trás, por dentre as portas, Moby e Bebel andando na coleira. Graças a Deus! Eles estão vivos!
Fui liberada pela soldadinha, que agora me libera assim que mostro a certidão de casamento. O que um papelzinho não faz, hein? Sai correndo e Bebel se soltou e veio correndo em minha direção. Moby ainda ficou tonto tentando entender onde, como e principalmente porque.
Passamos pela alfandega onde literalmente passaram a mão nos dois e nem quiseram olhar coisa nenhuma. Welcome to Israel eles falaram. Já no saguão do aeroporto Ben-Gurion Bebel sem cerimõnia se abaixou e fez o maior xixi do mundo. Eu tava preparada, já carregava comigo aquele cobertorzinho de avião exatamente prevendo que isso poderia acontecer. Depois veio o coco. Esse foi fácil, eu tava com o saco a postos.
Como tantos outros judeus...Moby e Bebel viajaram o mundo e agora que já estão ficando com mais idade (9 e 10 anos) vieram se aposentar na terra prometida.
Estamos todos bem!

sábado, 5 de março de 2011

A mulher da faxina

Já disse que gosto de fazer faxina. Principalmente a parte que envolve água. Lavar chão, lavar banheiro, etc..Faxina pra mim é terapia, sempre me ocorrem pensamentos interessante. Mas não é só isso. Não sei delegar. E sabe o que mais, todo mundo fala isso facilmente..Fulano não sabe delegar. Mas como é isso de não saber delegar? Na minha penúltima faxina aqui no ap pensei sobre isso e pensei no que pra mim significava não saber delegar.
Tudo começou porque contratei uma pessoa pra fazer faxina no ap e depois peguei o carro e subi a serra. Paguei por um dia e meio de faxina num ap de quarto e sala. Ou seja, esperava encontrar o ap um brinco. Precisaria mesmo de mais de um dia pra ficar o brinco que eu esperava encontrar, já que com as obras era uma poeira só. Muito bem, o Júlio porteiro me indicou a Rosilene, ela veio no ap, tratei com ela, e fui embora com Moby e Bebel pra serra.
Quando voltei ao ap alguns dias depois fiquei super decepcionada com a faxina dela. Não sou nada perfeccionista, nem com as minhas coisas e nem com as dos outros. Sou super tolerante e tá tudo bom pra mim. Mas a faxina da Rosilene deixou mesmo a desejar. Eu havia pedido que elas passasse um pano em todos os livros pra tirar a poeira, que fizesse quantas máquinas de roupas fossem possíveis (fez uma apenas, aparentemente), que ajeitasse os móveis em algum lugar (ajeitou todos), que lavasse todas as louças (não lavou nada, aparentemente) e o chão estava horrível. Resultado: Passei um sábado de sol no Posto 6 fazendo faxina. E então pensei: Se tivesse sido a minha amiga Cris que tivesse contratado este serviço o ap não estaria assim. Estaria de fato um brinco, tenho certeza. Então começei a cavar, a cafufar e a tentar descobrir porque. Ai pensei na forma como falei com a Rosilene no dia da faxina e constatei que eu faço o tipo "patroa gente boa". Sou mole mesmo, legal demais, simpática demais, sorridente demais. Veja bem, não estou dizendo que precisamos ser duras ou grossas com estas pessoas, não é isso. Mas o que constatei nessa minha faxina feita no dia lindo é que estes pequenos contratos de serviços (faxina de 1 dia com faxineira que nunca vi antes na vida) não se sustentam na simpatia. A Rosilene não tem nenhum sentimento em relação a mim, ela não me conhece e quanto mais fácil e rápido puder ser a faxina, melhor. Ela não me deve nada, nem simpatia, nem gratidão, nada. Se eu me apresento como patroa gente boa e vou embora assumindo que "ela sabe o que deve fazer", a tal da Rosilene vai fazer as coisas da forma mais fácil possível. E foi exatamente isso que aconteceu. O problema, eu pensei, é que na hora da contratação fica parecendo que eu estou ali pra fazer uma nova amiga, no caso a faxineira, e não pra contratar um serviço. E essa sutileza desta relação mal definida não fica clara para a Rosilene. O que ela tem ali é uma patroa mole que não vai dar trabalho. Resultado: Porcaria de faxina!
Já pro caso da Sueli, que era minha empregada de todos os dias, a minha "moleza" me transformava na patroa mais querida do mundo e eu podia contar com a Sueli para as mais diversas situacões, até pra ir cuidar de Moby e Bebel no domingo, quando eu tentava me virar pra ver que jeito daria pra deixar minha família e voltar pro Brasil por causa dos cães. Mas isso é fácil de entender..Sueli desenvolveu sentimentos por mim e isso não tem preço. Nunca sumiu 10 centavos da minha casa e ela não tem nenhum motivo pra se indispor comigo. É uma relação completamente diferente daquela relação que se desenvolve com a diarista. Com a diarista isso só ocorre depois de anos de convivência, como foi a minha com a Angélica, a faxineira da Guatemala que trabalhava na minha casa nos EUA e que ficou comigo por uns bons 4 anos da minha vida. Ela coonheceu o David e viu ele morrer. Foi pra mim que ela ligou desesperada do hospital quando estava prestes a dar a luz, eu paguei curso de inglês pra ela e vivia dando coisas pro filho dela. Para mim não há nenhum outro modo para se estabelecer estas relações.
No fundo a razão é uma só: evitar conflito. Não sei brigar com empregada, nem com o porteiro, nem com o bombeiro e nem com o cara que colocou as prateleiras.
Peciso encontrar alguém pra contratar estes serviços pra mim.
Cade meu marido que não chega?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Não sou refém

No dia 12 de fevereiro eu fechei um ciclo ao colocar Moby e Bebel dentro do carro e deixar Itaipava, onde morei por quatro anos, desde que fui embora dos Estados Unidos. Eu desci a serra no final do dia, depois de vender quase tudo que havia na casa. Vendi o sofá laranja, vendi a mesinha de centro, vendi a mesinha de televisão, vendi a televisão de 30 polegadas. Tudo coisa. Vendi tudo e o que não vendi ainda irei vender, dar, emprestar, alugar, consignar, sei lá. Tudo coisa. Não sou refém de coisa! Não sou refém de salário, não sou refém de aposentadoria garantida, não sou refém de rotina, não sou refém de 13 salário, não sou refém de lugar, não sou refém de língua. Meu compromisso é com uma coisa apenas: a minha felicidade. E faço o que tiver que ser feito em nome deste único compromisso.
Engana-se quem achar que isso é o mesmo que dizer que sou irresponsável ou inconseqüente. De jeito nenhum. Sou super responsável e penso tudo sobre todas as coisas. Porque ser responsável e pensar tudo sobre tudo faz parte da minha felicidade.Também é um engano pensar que se trata de uma viagem solitária e egosísta. Mais do que nunca não. Porque estar com a minha família, meu marido e meus cachorros faz parte da minha felicidade.
Estou no Rio. Moro no Rio. Planeta Copacabana, que saudades!
Hoje entendo perfeitamente o que me levou a escolher Itaipava, um lugar onde nunca antes havia estado, onde não tinha estória, onde não conhecia absolutamente ninguém. A escolha por Itaipava foi como escrever a primeira página de um novo livro que se quer terminar um dia. Eu precisava começar tudo de novo, do zero. Precisava me afastar das coisas que conhecia, precisava me re-descobrir depois da morte da David e de viver 12 anos nos Estados Unidos, precisava me apresentar a mim mesma e me olhar lá no fundo pra ver o que poderia enxergar. Enxerguei um monte de porcalhada, umas minhas e outras que nunca me pertenceram. Umas me chocaram profundamente outras não me surpreenderam. Umas me assustaram outras me desesperaram. Umas me deprimiram, outras me deram esperança. Me agarrei no que ainda podia me dar alguma esperança, tive a devida coragem e puxei com força a corda que me acompanhava no fundo do poço. Do outro lado da corda havia um homem paciente que puxava um pouquinho de cada vez e que nunca, nunca em momento algum, largou a corda.
As pessoas que conheci em Itaipava foram amigas, companheiras e confidentes. Me ajudaram a construir este novo mundo cercado de montanhas. Eu precisava olhar para coisas bonitas. Precisava ver as borboletas, o Ipê roxo da rua abaixo, o periquito verde e escandaloso. Precisava poder sair sem medo de madrugada, precisava poder voltar a hora que fosse. Precisava descobrir onde era o supermercado, o cabeleireiro, o restaurante e onde era o melhor lugar para beber Itaipava.
Consegui perdoar todas as minhas dores. Consegui curar as feridas que me comiam aos poucos, consegui deixar o medo pra trás, consegui deixar de me fazer de vítima das circunstâncias, consegui me libertar da personagem da jovem viúva, consegui perder o medo da conta do banco, do mamograma, da vistoria do carro, do celular bloqueado. Consegui afrouxar a minha rigidez. Finalmente descobri o botão mais importante da minha vida. Ele chama-se foda-se!
Vou escrever um tratado: Como o botão foda-se me tornou uma pessoa mais feliz!
Não recomendo pra todo mundo. Somente pra aqueles que como eu sofrem, ou sofreram, de rigidez excessiva.
Agora não sou mais refém de nada. Nem das minhas maluquices.
Meu marido chega em duas semanas. Ele vem me ajudar com a entrega do apartamento em Itaipava, com a reforma do apartamento em Copacabana e com a viagem de Moby e Bebel para Israel.
A viagem acontecerá em Abril.
Estou muito feliz. E pensei: sobre felicidade não se conversa. É o assunto mais proibido do mundo. Pode se falar sobre traição, dores, tristezas, dúvidas, incertezas. Mas sobre felicidade não se pode falar. Não pega bem ligar para uma amiga e pedir: Vamos sair? Quero te contar como eu estou estupidamente feliz.
Não pode. É feio. Até dá medo. Olho gordo, dizem. De felicidade não se fala não, só de desgraça e coisa ruim. Pra falar de coisa ruim sempre tem um ouvido amigo..já da tal felicidade...
Queria contar como estou estupidamente feliz. Posso?